terça-feira, 16 de novembro de 2010

Qual é o perfil do profissional da Educação Infantil?

        A definição do profissional de Educação Infantil se dará a partir do seu campo de atuação: a realidade da criança como um ser em desenvolvimento e como um ser histórico concreto, sujeito de direitos e necessidades, numa escala de importância própria, às vezes difícil de perceber adequadamente numa visão adultocêntrica. Esta criança definirá o perfil do profissional que será seu parceiro no tempo e espaço da Educação Infantil.
        A existência infantil tem múltiplas e surpreendentes formas de expressão e elaboração. Porém, a diversidade da manifestação infantil não exclui a unidade de objetivos que qualificam as ações dos agentes da Educação Infantil. É possível pensar um profissional novo, múltiplo, pleno, capaz de estar todo em todos os momentos, em todos os tempos e em todos os espaços da infância. Evidentemente, esse profissional não será um "especialista" no sentido técnico do termo. Será, sim, omnidimensional, multidimensional - pleno como são plenos aqueles que caminham juntos e repartem, a seu modo, a existência dramática que lhes é comum.
       O profissional da Educação Infantil deverá ter um preparo especial, porque para a infância se exige o melhor do que dispomos. Mesmo porque, na relação pedagógica, não basta estar presente para ser um bom companheiro. O profissional de Educação Infantil deverá ter um domínio dos conhecimentos científicos básicos, tanto quanto conhecimentos necessários para o trabalho com a criança pequena (conhecimentos de saúde, higiene, psicologia, antropologia e história, linguagem, brinquedo e das múltiplas formas de expressão humana, de desenvolvimento físico e das questões de atendimento em situações de necessidades especiais). Precisa ainda ter sob controle seu próprio desenvolvimento, bem como estar em constante processo de construção de seus próprios conhecimentos. Ter elaborado, maduramente, a questão de seus valores, cultura, classe social, história de vida, etnia, religião e sexo.
       A formação de profissionais de Educação Infantil numa visão nova é prioritária, mas não é suficiente. A par destas definições serão necessários investimentos de grande porte, basicamente na qualificação e dignificação de recursos humanos, infra-estrutura física e equipamentos (todos) e tempo de infância e de relações pedagógicas significativas.

Euclides Redin, 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Alfabetizar na Educação Infantil. Pode?

A polêmica sobre ensinar ou não as crianças a ler e a escrever já na Educação Infantil tem origem em pressupostos diferentes a respeito de várias questões. Entre elas:

O que é alfabetização?  Alguns educadores acham que é a aquisição do sistema alfabético de escrita; outros, um processo pelo qual a pessoa se torna capaz de ler, compreender o texto e se expressar por escrito.

Como se aprende a ler e escrever?  Pode ser uma aprendizagem de natureza perceptual e motora ou de natureza conceitual. O ensino, no primeiro caso, pode estar baseado no reconhecimento e na cópia de letras, sílabas e palavras. No segundo, no planejamento intencional de práticas sociais mediadas pela escrita, para que as crianças delas participem e recebam informações contextualizadas.

O que é a escrita?  Há quem defenda ser um simples código de transcrição da fala e os que acreditam ser ela um sistema de representação da linguagem, um objeto social complexo com diferentes usos e funções.

       Em razão desses diferentes pressupostos, alguns educadores receiam a antecipação de práticas pedagógicas tradicionais do Ensino Fundamental antes dos 6 anos (exercícios de prontidão, cópia e memorização) e a perda do lúdico. Como se a escrita entrasse por uma porta e as atividades com outras linguagens (música, brincadeira, desenho etc.) saíssem por outra. Por outro lado, há quem valorize a presença da cultura escrita na Educação Infantil por entender que para o processo de alfabetização é importante a criança ter familiaridade com o mundo dos textos.

       Na Educação Infantil as crianças recebem informações sobre a escrita quando: brincam com a sonoridade das palavras, reconhecendo semelhanças e diferenças entre os termos; manuseiam todo tipo de material escrito, como revistas, gibis, livros, fascículos etc.; e o professor lê para a turma e serve de escriba na produção de textos coletivos.

      Alguns alunos estão imersos nesse contexto, convivendo com adultos alfabetizados e com livros em casa e aprendendo as letras no teclado do computador. Eles fazem parte de um mundo letrado, de um ambiente alfabetizador. Outros não: há os que vivem na zona rural, onde a escrita não é tão presente, e os que, mesmo morando em centros urbanos, não têm contato com pessoas alfabetizadas e com os usos sociais da leitura e da escrita.

       Grande parte das crianças da escola pública depende desse espaço para ter acesso a esse patrimônio cultural. A Educação Infantil é uma etapa fundamental do desenvolvimento escolar das crianças. Ao democratizar o acesso à cultura escrita, ela contribui para minimizar diferenças socioculturais. Para que os alunos aprendam a ler e a escrever, é preciso que participem de atos de leitura e escrita desde o início da escolarização. Se a Educação Infantil cumprir seu papel, envolvendo os pequenos em atividades que os façam pensar e compreender a escrita, no final dessa etapa eles estarão naturalmente alfabetizados (ou aptos a dar passos mais ousados em seus papéis de leitores e escritores)".

Entrevista com Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita.
Regina Scarpa mailto:novaescola@atleitor.com.br